Os EUA mandaram recados ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva refutando categoricamente a avaliação brasileira de que a nova rodada de sanções ao Irã seja o início de uma escalada para repetir o que houve no Iraque e invadir o país.
Pelos recados enviados por meio do Itamaraty e da Assessoria Internacional da Presidência, a intenção de Washington é oposta: as sanções, que dependem do Conselho de Segurança da ONU, serão, ou seriam, para evitar que os atritos entre o regime e as potências descambem para uma guerra.
A discreta investida americana para amenizar as avaliações do governo brasileiro começou após uma afirmação dúbia do assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
Depois de uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, em 27 de abril, Garcia foi abordado por jornalistas que lhe perguntaram sobre o risco de guerra. Ele disse que não era um temor, mas não podia ser descartado.
“Quando se começa um determinado movimento, parar esse movimento às vezes é difícil. Você não consegue pôr a pasta de dente para dentro do tubo. E eu acho que já tiraram a tampinha”, disse ele.
A partir daí, o presidente Lula desmentiu publicamente que o Brasil trabalhasse com um cenário de guerra e houve telefonemas de Washington e visitas do embaixador americano, Thomas Shannon, a influentes gabinetes do Planalto e do Itamaraty, detalhando a posição dos EUA.
A Folha apurou que os interlocutores descartam uma aventura militar no Irã dizendo que os EUA não têm condições políticas, econômicas, financeiras e operacionais para repetir a invasão do Iraque.
O país se recupera da crise financeira, vive grave crise fiscal e não tem armamento nem tropas disponíveis. Todo o esforço de guerra está concentrado no Iraque e no Afeganistão.
A alternativa à invasão, atirar mísseis em locais estratégicos, como já ocorreu no governo do também democrata Bill Clinton, igualmente é descartada.
Motivo: o Irã aprendeu com aquele primeiro ataque a multiplicar seu arsenal estratégico e a diversificar os locais onde ele é armazenado. As armas estariam abaixo da superfície, no meio das montanhas, espalhadas por todo o país.
Isso significa que seria necessário repetir ataques. Eles não seriam capazes de eliminar o potencial bélico do Irã e justificariam um contra-ataque às tropas no Iraque e Afeganistão.
Ingenuidade
O custo, como vêm dizendo os americanos ao governo brasileiro, seria não só um caos na região como milhares de novas baixas nas tropas dos EUA.
Nas conversas entre Brasil e EUA sobre o Irã, há o cuidado de lado a lado de não confundir a disposição brasileira de intermediar uma solução para a questão do programa nuclear iraniano com a parceria explícita e provocativa do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, com o regime islâmico.
Há, porém, a percepção de um certo desconforto do Brasil com a perda de liderança para a Venezuela na aproximação da América do Sul não só com o Irã mas também com a Rússia -principal fornecedora de armamento, incluindo submarinos e aviões, para Caracas.
Apesar do cuidado em ressaltar a ascensão do Brasil no cenário internacional e as qualidades de Lula como líder regional, a avaliação do governo Obama coincide com a declaração da secretária de Estado, Hillary Clinton, que considerou “ingênua” a investida brasileira na questão iraniana.
Seria ingênua ou mesmo infantil na medida em que está “tateando” para entender o tamanho e os limites da sua desenvoltura e de seu poder de influência internacional.
Os EUA descobriram os deles ao perderem no Vietnã. O Brasil testa os seus na mediação entre Israel e palestinos, na crise de Honduras (os EUA reconhecem o presidente eleito, e o Planalto, não) e no Irã. Boa parte da resposta está no êxito, ou não, da visita de Lula.
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